sábado, 2 de fevereiro de 2019

Submersa



Já se passaram dez anos e ainda me sinto do mesmo jeito, vulnerável, perdida. Como isso é possível? Depois de tanto tempo eu não deveria ter encontrado um caminho, uma solução? Afinal, dizem que o tempo a tudo resolve.
Todas as noites eu contemplo o céu estrelado a espera de uma resposta, como se o meu destino estivesse traçado nas constelações.
Essa angústia, esse vazio faz um barulho ensurdecedor. Eu choro em silêncio com as mãos na boca me segurando para não gritar. Mas a vontade é gritar o mais alto possível. É correr pelas ruas escuras sem rumo, como se minha alma fosse se separar do corpo e chegar ao meu destino. Mas estou aqui, inerte por fora, e surtando por dentro.
Me sinto sufocada, eu não posso cantar, eu não posso dançar, eu só posso escrever. Esse é o meu jeito de extravasar, de descarregar um pouco do peso que mora em mim.
Eu tenho essa voz interna, ela pesa toneladas e me leva pra baixo. Eu estou me afogando dentro de mim mesma. É como uma maré que me carrega cada mais para as profundidades. Cada dia da minha vida é uma constante luta, nadando de braçadas para permanecer na superfície. Mas eu não sei nadar.
Eu não sei como nadar nesse mundo, tentam me ensinar as regras desde que nasci. Então uma hora, eu simplesmente cansei de tentar aprender e comecei a fingir. Mas o esforço é exaustivo e esse sentimento é como uma droga. Um tipo de droga que não mata neurônios, mas corrói, de pouco a pouco, cada pedaço da minha alma. Tenho medo que uma hora eu pare de ao menos fingir e simplesmente me permita afundar.




Loren Rodrigues
02/02/2019

sábado, 31 de março de 2018

Um feliz paradoxo



Eu sou um paradoxo. Provavelmente isso me faz ser tão complicada quanto um cubo mágico. Mas desisti de tentar ser menos complicada, ou será que de fato algum dia tentei? Se as minhas próprias conversas interiores não se decidem, imagine como é viver cada segundo em "looping" interno.

Enquanto o mundo corre desgovernado, eu percebo a mudança gradual de temperatura da  brisa ao entardecer. Ouso contemplar um céu com estrelas meio encobertas pelas luzes da cidade e ainda a dizer mentalmente "Hello, beautiful" para a lua. E a imaginar que enquanto eu faço isso, mais alguém do outro lado do universo faz a mesma coisa. E aquele momento em que você está com uma roupa leve e esfria, aquela sensação gelada na pele antes de realmente sentir frio. É libertador. E quando você escuta uma música "on repeat" com fone de ouvido, fecha os olhos e simplesmente viaja até perder a noção do tempo? Você já percebeu que o mar é um pulmão sem limites? As ondas respiram, vão e voltam com um som que acalma. Uma respiração que é capaz de acalmar a minha. Eu sei que todo mundo fala do cheiro da terra molhada quando chove, mas você já percebeu como o céu nunca é tão azul quanto após uma chuva de verão? E as cores do amanhecer? Aquele abandono do azul escuro acinzentado com o chegar do tom rosado, depois laranjado, amarelo, novamente azul, mas claro, a luz. Se pararmos para pensar, é um quebra cabeça sendo montado ao nosso redor diariamente. Por que sempre estamos dormindo na melhor cena do dia? Eu só queria nunca precisar dormir para sentir cada segundo do dia. Sentir o presente que é estar vivo. 

Só sei que por muito tempo me condenei por desejar coisas consideradas incomuns e por ter uma percepção "diferente e sensorial" da vida. Mas hoje eu vejo que é isso que me faz ser quem eu sou. E eu tenho MUITO orgulho de ser quem eu sou, acredite.

Não se engane, não me sinto nem um pouco "perfeita". Pelo contrário, tenho mais falhas do que posso nomear, tenho um coração esburacado e uma alma perdida, mas livre.

E sobretudo, tenho essa voz inconformada dentro de mim. E nossa, que orgulho eu aprendi a ter dela. Ela não se satisfaz, nunca. Tem uma fome de justiça, de história, de liberdade. Nada vai ser suficiente. E hoje eu percebi que passei tanto tempo procurando uma completude que não existe. Eu não penso mais em me sentir completa. Porque no fim, ninguém nunca se sente. Demorei muito para perceber que gosto de ter esse espaço livre. Aberto. À espera do amanhã. Porque viver não deveria jamais ter um limite.


Loren Rodrigues 31/03/2018

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Be Brave



Você gosta de histórias? Ou seriam estórias? Depende de você, calma, você vai entender...

Depois de 30 anos trabalhando como gerente de um supermercado, o escocês Scott tomou a coragem de se demitir e se entregar a sua verdadeira paixão, a música. Certo dia, escreveu uma canção sobre a quantidade de "E Se" que houve no decorrer da sua vida.
 A inglesa Rachel estava de férias na Escócia e ouviu Scott cantando a nova canção e tocando ukulelê e resolveu contratá-lo em sua agência.
A italiana Alessia decidiu colocar a playlist no modo aleatório pela primeira vez e ouviu a canção. Se sentiu inspirada e escreveu um texto sobre coragem no seu blog.
O mexicano Marco leu o texto e decidiu abandonar a faculdade de administração e se tornar um bailarino reconhecido. 
O português Pedro leu a história de Marco em um noticiário e percebeu que ele merecia ser feliz, independente de quem ele ame, seja homem ou mulher.
A brasileira Luísa conversou em um chat com Pedro e tomou coragem de dizer para a sua família que embora eles a vejam como Luísa, ela sempre se enxergou como Luís e era quem ele seria dali em diante.
O bioquímico francês Dominic, em uma noite de insônia viu a conversa no chat e resolveu escrever um roteiro para um filme, seu sonho desde a infância. 
A indiana Aja assistiu o filme e se deu conta de que não queria ser somente uma esposa e tomou coragem de dizer aos seus pais que queria estudar Astronomia nos EUA.
O alemão Hans estava voltando para casa após desistir do sonho de ser escritor, quando conheceu Aja em uma longa espera no aeroporto. Ela contou a sua história. Ele se sentiu capaz após muitas decepções e escreveu um livro sobre as decisões que mudam uma vida.
O canadense Stuart leu o livro e decidiu fechar o seu consultório privado e trabalhar como médico voluntário na Namíbia.
A Namibense Duni conheceu Stuart que a fez acreditar que sonhos podem ser realizados. Ela se tornou engenheira e comanda um projeto de Gestão Sustentável em todo o Continente Africano. 

Cansou? É um ciclo vicioso, poderia continuar contando mais casos e casos. E sim, são reais. Não com os mesmos nomes, nacionalidades, sonhos, decisões. Mas isso acontece a cada segundo. Tudo está interligado no Universo. Cada ação repercute do outro lado do Planeta. Basta um sentimento, de coragem, de merecimento. Porque sim, merecemos ser felizes. Mesmo que o mundo diga o contrário. E deixe eu te dizer uma coisa, coragem é contagiosa, sim, é pior que vírus. Se espalha pelo ar, através de ações e reações. Decisões são fundamentais. Cada vez que você decide abraçar um sonho, um chinês também decide ser feliz. Portanto, se a sua autossabotagem ainda não te permitiu ter coragem por você, tenha pelo resto do mundo. rs 

BE BRAVE.



Loren Rodrigues
09/02/2017

sábado, 28 de junho de 2014

Lar



Eu simplesmente não consigo evitar...essa sensação de vazio. De não pertencer a este lugar. É como se eu estivesse em uma eterna espera para o dia em que eu vou adentrar o meu lugar. O dia em que eu vou me sentir em casa. Pisar os pés no chão e sentir conforto e paz. Ser parte de um todo. Construir um legado.

Mas, eu tenho tanto medo de nunca conseguir chegar, estagnar, aqui ou no meio do caminho. Não é que eu não seja feliz, mas eu realmente não me sinto completa. Uma parte de mim está distante, me aguardando no lugar em que um dia, espero, chamarei de lar.

A cada dia que passa, sou tomada por uma ansiedade, um nervosismo no mais recôndito do meu ser. Acredito que a melhor comparação é quando se viaja durante a infância, sem ter noção do tempo e distância, e só se vê estrada e mais estrada, e o destino, parece nunca chegar.

Não sei qual o meu maior temor, se é ficar perdida no meio da estrada ou simplesmente nunca chegar e ser perpetuada pela sensação de não pertencer a lugar nenhum.




28/06/2014
Loren Rodrigues


sábado, 15 de março de 2014

Náufrago



Já faz tempo que não escrevo, não sei se é o vazio da mente ou de emoção. Mas, existem dias únicos com momentos inesperados que se refletem como espelhos, mostrando quem se é e onde se deve estar. É como acordar de um sonho profundo que não faz sentido e você de repente passa a pensar o quanto se está perdido, que nem imagina como foi que as coisas tomaram tal proporção e se tornaram tão diferentes do que foi sonhado.

Eu sempre escrevo sobre a sensação de se sentir perdido e é tão engraçado que nem sequer é algo que nos deixa triste, na verdade, é realmente a ausência do “sentir”. Nada nos deixa mais vazio e perdido do que o “não sentir”. É como estar em um pequeno barco no meio do oceano e ver os remos caindo e mergulhando na imensidão das águas. Neste exato momento, deixamos de lado algo essencial: as rédeas da nossa própria vida, pois, assim deixamos de fazer escolhas e consequentemente, de sonhar. De fato, deixamos a maré nos levar e simplesmente esperamos que os ventos nos encaminhem a algo digno ou que ao mesmo nos faça sorrir.

E uma coisa eu realmente digo, isso é muito mais fácil. Mais fácil do que ser destroçado pelas consequências de suas próprias escolhas. Comandar a vida exige responsabilidade. É não poder abdicar do “sentir” e aprender a viver e apreciar os frutos de cada decisão.

Compreendemos com o tempo que a vida sempre vai ter estes dois caminhos, o mais fácil e o mais difícil. Mas, sinceramente, eu ainda tenho esperança em um terceiro.


Loren Rodrigues

12/03/14

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

O JÚRI


Desde o dia em que nascemos, recebemos um manual de sobrevivência mentalmente instalado determinando quem você deve ser, como deve ser. O que é certo, o que é errado. O que deveria te fazer feliz.

E quando você não segue o manual e descobre o que te faz realmente feliz, um alerta é emitido a quilômetros de distância. Milhões de cartazes de "procura-se", "perigo para a sociedade", afinal, há quem diga que a felicidade é contagiosa.

De pronto, você é encarcerado pelos conselheiros, policiais da verdade. 

O meu coração está manchado pelo mundo, o mesmo mundo que me ensinou a me odiar por não conseguir corresponder as expectativas da sociedade, idealmente perfeita. Se você não se adequar, o mundo te abandonará. Ele precisa de moldes perfeitos, marionetes talentosas.  

Eu cansei dos pré-julgamentos de quem (acha) tem razão. É difícil acreditar em si quando mais ninguém acredita. Eu abandonei tudo o que me fazia feliz para poder fugir do júri diário, mas sempre haverá um novo "crime" a ser julgado e a satisfação da platéia só virá quando te transformarem em pó. Te condenarão por inúmeros delitos e a prisão perpétua existirá em todos os lugares.

O sadismo é assombroso, os jurados e os promotores, ah, esses vão dilapidar a sua alma, e no final você será convencido de que é culpado. E pior, você se convencerá de que não merece ser feliz. Porque ser feliz em tempos de egoísmo e inveja é crime contra a dignidade da pessoa humana (dos outros).



03/10/2013
Loren Rodrigues

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

O limiar


       Quatro paredes, já não suporto mais encarar o teto, sair? Muitas vezes, sair é como voltar a encarar o teto. Todos vivem a mesma vida, todos os dias, tanto automatismo, repetição, sem vida. E é como se eu não me encaixasse. Tão cruel é a vida dos que enxergam de verdade, pois, os que estão cegos, estão felizes na farsa. E nós? Talvez nunca nos conformaremos. Me sinto como um quebra cabeças onde faltam muitas peças a se completar. Que ninguém saiba como é se sentir tão perdida, como eu me sinto. Onde estou, nada avisto, nem o céu é tão bonito como deveria ser. Falta alma, luz, energia, sabor, falta "sentir". Eu que ainda nem comecei a minha jornada, estou sufocando, a espera de deixar o casulo e seguir. Os ventos de onde eu vivo já não fazem sentido, se é que algum dia fizeram, para mim. Sei que o meu Destino me aguarda para o limiar dos meus passos. Para entender, é necessário sentir. Essa necessidade de liberdade, de encontrar um lugar para se chamar de lar, necessidade de me encontrar. Chega um ponto em que você só vai empurrando, deixando o tempo passar, até que o dia do início dos tempos, do meu tempo, comece. Não importa o que hei de encontrar, quanto tempo levarei. Porque, talvez, encontrar não seja o mais importante, e sim buscar. Os caminhos que eu vou percorrer, tudo o que eu encontrar no caminho, me fará ser realmente quem sou, me transformará, me revigorará a alma. Ah, como eu preciso caminhar. Estagnar é como uma doença terminal, a infelicidade proveniente disto é como estar morto em vida.




"Mesmo que eu precise,
Ainda ser livre
Nosso futuro está pavimentado
Com dias melhores..."
Eddie Vedder


“Na minha opinião existem dois tipos de viajantes: os que viajam para fugir e os que viajam para buscar.”
Érico Veríssimo

Loren Rodrigues 27/12/12

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Adeus

   
     E eu digo que te odeio. Repito tantas vezes que provoca uma dor rasgante. Mas é mentira, eu te amo, nem sequer me imagino algum dia sem te amar. Só que eu preciso mentir, porque é mais fácil. Não fomos feitos pra durar, jamais encontraremos um final feliz. E talvez porque no fundo eu saiba que você jamais me amou. 

   Dizer que te odeio é a forma mais simples de te manter distante o suficiente para que você não me machuque mais. Tenho esperanças que de tanto repetir, eu acabe te odiando de verdade. Só estou cansada de te amar sozinha. E o pior é que quanto mais eu digo que te odeio, mais percebo o quanto eu amo você.

   Como o mundo pode ser justo, se a pessoa que eu mais amo é a que mais me faz sofrer, é quem possui um talento nato para me magoar? 

    Eu me exorcizei de você, mas não funcionou. É como se estivesse impregnado em mim, na minha pele, no meu toque, nos meus pensamentos. Eu te expulsei de mim, pelo menos é o que eu espero que você acredite. Porque eu repeti mil vezes na frente do espelho, mas soou a maior blasfêmia já dita.

    Eu te disse adeus, mas sempre vou amar você. Mesmo que tudo tenha sido mentira, suas palavras, seus toques, seus sorrisos, seus beijos. Você me condenou a amar sua mentira, agora eu te condeno a conviver com a minha: eu te odeio.


s vezes te odeio por quase um segundo, depois te amo mais..."
Os Paralamas do Sucesso



Loren Rodrigues 18/10/2012




quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Dádivas & Maldições

      
        No começo era dádiva, algo para se ajoelhar todos os dias e agradecer. Surgiu feito um sol que nasce nas manhãs frias para aquecer. Nos dias tensos, era o que me acalmava e, no tédio, era o que trazia adrenalina. Eu não conseguia entender algo tão contraditório, era como um remédio para a infelicidade.
      Sabe quando você simplesmente para de pensar no passado ou no futuro? Foi o que aconteceu. De repente, nada mais existia, nada mais fazia sentido. Era o presente que importava, na verdade, o presente ao seu lado. Eu deveria saber que uma grande entrega acarretaria em uma grande queda. Mas quando você vê o brilho do sol pela primeira vez, fica tão cego diante de tal perfeição que esquece que pode se queimar.
     Quando eu te encontrei, caiu como luva, preencheu os espaços antes nunca ocupados. Eu jamais podia imaginar que a maior dádiva da minha vida se tornaria uma maldição. Se antes você me trazia um rumo, hoje me leva à perdição. Quando estamos distantes, eu consigo caminhar, mas quando você se reaproxima, perco o rumo e preciso recomeçar. De novo, e de novo, e de novo. Você nem percebe o quanto dói, o quanto é difícil. Isso soa como um egoísmo descomunal. 
      Mas na verdade, a própria ideia de você existir em algum lugar no mundo, é como um calorzinho esquecido aqui dentro. Eu nunca vou conseguir odiar você. Jamais vou te esquecer. Você sempre será parte de mim, parte de quem eu sou, porque quando te conheci, foi quando me encontrei. Talvez por isso tenha machucado tanto, porque quando acabou, você levou uma parte de mim, e me deixou incompleta novamente, irremediavelmente desnorteada. 
      O primeiro contato com um grande amor, é sempre assim, primeiro a brisa atrelada à tempestade. Depois a tempestade toma conta. E o mais verossímil é que nossas vidas não terminam com os grandes amores, os filmes e livros foram ilusões criadas para nos sentirmos melhores. Mas na verdade nos sentimos piores quando não alcançamos o tão almejado "felizes para sempre".
      Nem sei como prosseguir, as lembranças me assombram todos os dias com o que vivemos e o que deveríamos/poderíamos ter vivido. E é tão injusto te ver e me sentir "proibida" quanto a você. Porque acabou. Já faz tempo. Tente dizer isso a si mesmo. E vai ver o quanto soa absurda a ideia de esquecer. Mas se for pra ser sincera, comigo, com você e com o mundo, seria fuga, mas seria a minha escolha. E o mais cruel é doer tanto que me faz desejar esquecer algo que um dia deu sentido a minha vida. 
      O que nos faz feliz jamais deveria ocasionar tristeza. Grandes amores são como uma maldição, porque para nós, nunca acabam.


"This gift is my curse for now."
" Essa dádiva é minha maldição de agora em diante."
(Yellowcard)

"Feliz é o destino da inocente vestal, esquecida pelo
 mundo que ela esqueceu, brilho eterno de uma mente sem lembranças!"
(Do filme "O Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças".)




Loren Rodrigues 10/10/2012


sábado, 22 de setembro de 2012

Rosa de Saron


    Eu que não tenho acreditado muito em milagres nos últimos tempos, vi a terra seca e árida se banhar em cachoeiras do céu. Vi trovejar, não só lá fora, mas muito mais aqui dentro. Tudo que eu tenho sonhado, não, não aconteceu. Sei que uma hora cada história, cada estrada encontra o seu rumo. Passar os dias almejando o não vivido, o tão esperado, é deixar o presente desvanecer, abandonando assim o que virá.

    Mas minha mente se permite encarcerar pelo que sinto, todos os meus anseios se tornam um emaranhado de confusão, todos os meus medos, tristezas, inseguranças, esperanças... ocupam o espaço indevido. Enquanto isso, a insônia vem, penso tanto que o sono se ofende e decide adormecer longe de mim.

    Eu poderia ignorar, mas ignorar o que eu sinto é ignorar quem sou. Particularmente, tenho percebido que ser quem sou demanda qualquer rumo que não seja normal ou comum. Eu tenho tempestades internas diárias, o Sr Passado em batalha com o Sr Futuro desejando destronar o Sr Presente. Mas às vezes, aparece um certo Sr Do Que Não Virá, Embora Eu Quisesse que causa uma verdadeira turbulência. E o pior é que realmente não sei qual lado escolher nesse Golpe de Estado Interno. Vontade versus o que é apropriado.

    Só por um dia eu queria não pensar em nada, não desejar nada. Simplesmente deixar chover, até inundar. Me afogar em esquecimento completo. Quem sabe assim, eu possa abrir um caminho nas águas, fugir de mim. Recomeçar. Dar um primeiro passo em qualquer lugar distante e conhecer o Sr Desconhecido. Descobrir cada canto do mundo que eu jamais pensei que poderia existir. Me surpreender. Ficar tão feliz por nada e simplesmente, isso ser tudo.

    Aonde eu caminho, mergulhos são raros, o ar é sempre tão pesado, tão parado, a realidade é mais real do que deveria ser, que até sufoca. Hoje, choveu. Poderia assim, surgir uma nascente em mim? Ver jorrar água límpida e cristalina, onde era terreno enxuto e ressequido? Talvez acreditar que rosas realmente podem brotar no deserto, assim como em Saron.


Loren Rodrigues 21/09/2012