sábado, 22 de setembro de 2012

Rosa de Saron


    Eu que não tenho acreditado muito em milagres nos últimos tempos, vi a terra seca e árida se banhar em cachoeiras do céu. Vi trovejar, não só lá fora, mas muito mais aqui dentro. Tudo que eu tenho sonhado, não, não aconteceu. Sei que uma hora cada história, cada estrada encontra o seu rumo. Passar os dias almejando o não vivido, o tão esperado, é deixar o presente desvanecer, abandonando assim o que virá.

    Mas minha mente se permite encarcerar pelo que sinto, todos os meus anseios se tornam um emaranhado de confusão, todos os meus medos, tristezas, inseguranças, esperanças... ocupam o espaço indevido. Enquanto isso, a insônia vem, penso tanto que o sono se ofende e decide adormecer longe de mim.

    Eu poderia ignorar, mas ignorar o que eu sinto é ignorar quem sou. Particularmente, tenho percebido que ser quem sou demanda qualquer rumo que não seja normal ou comum. Eu tenho tempestades internas diárias, o Sr Passado em batalha com o Sr Futuro desejando destronar o Sr Presente. Mas às vezes, aparece um certo Sr Do Que Não Virá, Embora Eu Quisesse que causa uma verdadeira turbulência. E o pior é que realmente não sei qual lado escolher nesse Golpe de Estado Interno. Vontade versus o que é apropriado.

    Só por um dia eu queria não pensar em nada, não desejar nada. Simplesmente deixar chover, até inundar. Me afogar em esquecimento completo. Quem sabe assim, eu possa abrir um caminho nas águas, fugir de mim. Recomeçar. Dar um primeiro passo em qualquer lugar distante e conhecer o Sr Desconhecido. Descobrir cada canto do mundo que eu jamais pensei que poderia existir. Me surpreender. Ficar tão feliz por nada e simplesmente, isso ser tudo.

    Aonde eu caminho, mergulhos são raros, o ar é sempre tão pesado, tão parado, a realidade é mais real do que deveria ser, que até sufoca. Hoje, choveu. Poderia assim, surgir uma nascente em mim? Ver jorrar água límpida e cristalina, onde era terreno enxuto e ressequido? Talvez acreditar que rosas realmente podem brotar no deserto, assim como em Saron.


Loren Rodrigues 21/09/2012