sábado, 31 de março de 2018

Um feliz paradoxo



Eu sou um paradoxo. Provavelmente isso me faz ser tão complicada quanto um cubo mágico. Mas desisti de tentar ser menos complicada, ou será que de fato algum dia tentei? Se as minhas próprias conversas interiores não se decidem, imagine como é viver cada segundo em "looping" interno.

Enquanto o mundo corre desgovernado, eu percebo a mudança gradual de temperatura da  brisa ao entardecer. Ouso contemplar um céu com estrelas meio encobertas pelas luzes da cidade e ainda a dizer mentalmente "Hello, beautiful" para a lua. E a imaginar que enquanto eu faço isso, mais alguém do outro lado do universo faz a mesma coisa. E aquele momento em que você está com uma roupa leve e esfria, aquela sensação gelada na pele antes de realmente sentir frio. É libertador. E quando você escuta uma música "on repeat" com fone de ouvido, fecha os olhos e simplesmente viaja até perder a noção do tempo? Você já percebeu que o mar é um pulmão sem limites? As ondas respiram, vão e voltam com um som que acalma. Uma respiração que é capaz de acalmar a minha. Eu sei que todo mundo fala do cheiro da terra molhada quando chove, mas você já percebeu como o céu nunca é tão azul quanto após uma chuva de verão? E as cores do amanhecer? Aquele abandono do azul escuro acinzentado com o chegar do tom rosado, depois laranjado, amarelo, novamente azul, mas claro, a luz. Se pararmos para pensar, é um quebra cabeça sendo montado ao nosso redor diariamente. Por que sempre estamos dormindo na melhor cena do dia? Eu só queria nunca precisar dormir para sentir cada segundo do dia. Sentir o presente que é estar vivo. 

Só sei que por muito tempo me condenei por desejar coisas consideradas incomuns e por ter uma percepção "diferente e sensorial" da vida. Mas hoje eu vejo que é isso que me faz ser quem eu sou. E eu tenho MUITO orgulho de ser quem eu sou, acredite.

Não se engane, não me sinto nem um pouco "perfeita". Pelo contrário, tenho mais falhas do que posso nomear, tenho um coração esburacado e uma alma perdida, mas livre.

E sobretudo, tenho essa voz inconformada dentro de mim. E nossa, que orgulho eu aprendi a ter dela. Ela não se satisfaz, nunca. Tem uma fome de justiça, de história, de liberdade. Nada vai ser suficiente. E hoje eu percebi que passei tanto tempo procurando uma completude que não existe. Eu não penso mais em me sentir completa. Porque no fim, ninguém nunca se sente. Demorei muito para perceber que gosto de ter esse espaço livre. Aberto. À espera do amanhã. Porque viver não deveria jamais ter um limite.


Loren Rodrigues 31/03/2018